Texto por: Carlos Alberto Francinelli Junior.
As eleições estão se aproximando rapidamente na medida em que os meses passam e, por conseguinte, as discussões e os debates começam a emergir de seu natural estado de latência. Afinal de contas, no que se refere ao pensamento crítico e maturidade para debater e fazer política, a nação brasileira encontra-se, convenhamos, ainda em estado embrionário.
Os debates giram em torno principalmente de quem poderia concorrer em pé de igualdade com o atual presidente Jair Bolsonaro. É necessário pontuar que este possui uma base eleitoral sólida e a máquina estatal a seu favor para impulsioná-lo a uma eventual reeleição; coisa que brasileiro adora, já que em nos últimos trinta anos de nossa curtíssima história democrática, rigorosamente todos os presidentes foram reeleitos. Para esta missão, despontam candidatos da esquerda e da chamada terceira via, algo que ninguém sabe direito do que se trata, visto não ser um movimento orgânico; muito pelo contrário, trata-se de uma organização que se apropriou de uma demanda justa que é a terceira via (ao bolsonarismo e ao petismo), mas que não apresentou de fato quais são suas ideias, projetos e como estes os diferenciam dos poderes consolidados que representam a bipolaridade que envolve o cenário político atual.
No campo progressista destacam-se como alternativas Lula e Ciro Gomes. Não perderei tempo com apresentações, tampouco repassando a história de cada um, contudo, é necessária uma reflexão acerca de qual dos dois pode, atualmente, levando em conta os dados coletados através das pesquisas, incomodar Bolsonaro e eventualmente derrota-lo. Muitos podem até afirmar que as pesquisas são manipuladas, porém, mesmo que haja esta possibilidade, são a única fonte estatística minimamente crível da qual podemos basear um raciocínio que não gire em torno dos afetos. Fora que é um tanto irônico que as pesquisas são “manipuladas” sempre que o candidato do acusador está com uma porcentagem abaixo do esperado, não é mesmo? Por essas e outras, prefiro balizar minhas opiniões em uma média filtrada do que os vários institutos de pesquisa divulgam a crer no meu seleto círculo de convívio social, no qual provavelmente a maioria das pessoas simplesmente concorda e replica as mesmas coisas nas quais eu acredito e valorizo, dando a entender de forma errônea que todos pensam como eu.
Analisando de forma racional, não há debate entre quem possa competir com Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais. Lula possui um capital político muito maior do que Ciro, embora este último seja, em teoria, uma escolha mais adequada (ou menos inadequada), pelo puro e simples fato de que nunca fora presidente antes. A lógica de muitas pessoas é a seguinte: conheço o “presidente Lula”, sei o que ele já fez de bom, de ruim, e principalmente o que ele não fez, contudo, não conheço o “presidente Ciro” e, por isso, vale a pena votar nele. Faria todo o sentido do mundo se o cenário fosse outro, mas com a democracia em risco, neste momento não podemos nos apegar ao que é ideal, mas sim ao que é possível fazer para garantir que nosso país não embarque em uma aventura autoritária que provavelmente produziria consequências nefastas em todos os sentidos e prazos.
Pessoalmente, possuo inúmeras restrições quanto a “figura pública” e ao “presidente” Lula. Em condições normais de temperatura em pressão, não seria meu candidato. Como exposto acima, em uma comparação com Ciro Gomes, apesar de não morrer de amores por este último, tenho a plena convicção de que Ciro poderia ser o início de uma virada de mesa positiva para o nosso país. Contudo, o momento é nevrálgico e requer que haja um sacrifício de ideais em prol da escolha do mal menor, até que o país possa retornar ao seu estado político homeostático e escolhas mais assertivas possam ser feitas a partir de então. Que possamos ter o discernimento e a sabedoria de dar um passo atrás para que, no tempo certo, possamos caminhar para frente e, para não fugir dos ditados populares, compreender que estamos em uma situação em que “é melhor ter um pássaro na mão do que paus e pedras para enfrentar outra ditadura”.
Sobre o autor: Carlos Alberto Francinelli Junior é psicólogo de formação, especialista em Política e Sociedade, Docência no Ensino Superior, Neuropsicologia e Análise do Comportamento. Atua profissionalmente como psicólogo na Prefeitura Municipal de Maricá (RJ) e está coordenador do Comitê de Educação e Cultura do IEPC – Instituto de Educação, Política e Cidadania.
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