Texto por: Mônica da Silva Lima.
Atualmente, o tema sobre o câncer e seu tratamento tem sido bastante falado nas mídias, mas pouco elucidado. O interessante é que com toda propaganda de prevenção, sua incidência vem aumentando assustadoramente, com cerca de 14 milhões de casos por ano, com previsão do aumento para 21 milhões de novos casos em 2035. De acordo com o Inca, só no Brasil são 600 mil novos casos por ano. O câncer tem sido considerado como um problema de Saúde Pública em todo o país. É uma doença multifatorial, ou seja, os fatores de risco podem ser endógenos (genéticos) ou ambientais, como cigarros, álcool, substâncias nocivas, estresse, alimentação e outros fatores ligados ao estilo de vida. Não existe um fator único que desencadeia o câncer; no entanto o estilo de vida está relacionado em até um terço de estarmos suscetíveis ao câncer. O estilo de vida está relacionado a alimentação, atividade física e composição corporal, os quais podem ser controlados para não aumentar a incidência da doença. Isto nos alerta que se mudarmos a forma de nos alimentarmos, melhorando a qualidade de vida podemos diminuir em 30% os novos casos de câncer no Brasil.
Alguns alimentos podem interferir positivamente na boa vida celular, como proliferação e replicação adequada da célula. Estudos científicos sugerem que o consumo excessivo da carne vermelha possa ser um fator cancerígeno. No entanto, fica claro também os grandes benefícios da carne para o sustento da saúde, pois é rica em proteínas, Zinco, B12, sendo importantes para a manutenção celular, para o sistema imune e para a composição corporal, que nos alimentos vegetais, geralmente, não são encontrados. Então o que fazer? Não consumir mais carne vermelha? Na verdade, o modo de preparo da carne tem um impacto significante. Por exemplo, uma carne frita, rica em gordura altera sua composição, favorecendo o crescimento de substâncias que podem interferir na replicação celular. O mais favorável é se optar por carne magra e diminuir a frequência de seu consumo para 500g por semana. O consumo excessivo de carne vermelha e de carne processada, como linguiça, salsicha, embutidos em geral, aumentam consideravelmente a carcinogênese e o risco de câncer de colo retal, próstata e pâncreas. Os alimentos defumados aumentam os riscos de câncer de estômago.
Outros compostos bioativos que estão presentes nos alimentos, principalmente nos vegetais, podem auxiliar na boa preservação do organismo, ou seja, possuem ação preventiva. São mais de 5 mil compostos bioativos existentes com ações distintas, de acordo com suas características de uso, ou seja, se é consumido cru, frequência de consumo, e etc., que podem interferir em sua ação no organismo. Os suplementos vitamínicos, por exemplo, podem atuar positiva ou negativamente na prevenção do câncer. Estudos indicam que as vitaminas A, C e E aceleram o crescimento das células cancerígenas, isto porque inibem a proteína p53, que tem como função a ação supressora dos tumores. Esta proteína quando presente no organismo tem a função de reconhecer a mutação celular, levando-as à apoptose, evitando desta forma, a formação do tumor. Infelizmente, estes estudos não saíram dos laboratórios, devido a falta de incentivo a pesquisa oncológica no Brasil. No entanto, vale ressaltar o cuidado no consumo destes suplementos vitamínicos. Por exemplo, a vitamina A pode aumentar os riscos de câncer de pulmão, e a vitamina E aumenta os riscos de câncer de próstata. Atualmente, desenvolvo uma pesquisa que analisa a atuação da vitamina K2 em células de câncer de mama, com resultados satisfatórios. A K2 quando se encontra junto a células cancerígenas estimula as mesmas à apoptose, ou seja, leva às células cancerígenas à morte. A vitamina também atua na angiogênese, diminuindo as chances de metástases. O que é mais interessante é que esta vitamina não interfere nas células saudáveis.
A K2 está presente na gema do ovo (principalmente o caipira) e no natto, alimento à base de soja fermentada o qual possui um alto teor de K2. Deixo aqui bem claro que esta é apenas uma pesquisa em laboratório e que precisa evoluir. Diante disto é aconselhável o uso de vitaminas por meio da alimentação adequada e não através de cápsulas. Certa vez, ouvi uma frase de um sábio médico em um congresso, e gosto de usá-la sempre em minhas palestras: “Vitamina não se compra em farmácia, se compra na feira!”.
Sobre o autor: Mônica é bióloga, graduada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, É Docente, palestrante, especialista em Oncologia Multiprofissional e pesquisadora em Terapia Antitumoral. Instagram: @limamonica.bri