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INSTITUTO LIBERTAS E O DESAFIO DA CULTURA LITERÁRIA

Texto por: Pedro Garrido.

     Desde o início de seu processo de existência, nosso país tem enfrentado desafios e barreiras para criar uma cultura literária, onde existam leitores e que estes valorizem a literatura nacional. Antes elitizada a literatura, a poesia, entre outras formas de escrita, era restrita aos grupos elitizados da sociedade, começando a mudar somente lá pelo início do século XX com o início do modernismo, com Manuel Bandeira sendo um dos clássicos exemplos de uma quebra de padrão.

    Muito já se fez desde aquela época, muitos paradigmas e tabus foram sendo derrubados para que a literatura fosse mais acessível no âmbito cultural e que pudéssemos ter mais autores no cenário nacional, mas mesmo assim ainda existem muitas barreiras que limitam o crescimento de uma cultura literária atual. Muita gente ainda acredita que esse universo é distante, que existem poucos escritores no nosso meio e que a maior parte da produção literária ficou no passado, o que não é verdade.

    A prova de que a cultura literária é atual e atuante é a quantidade de eventos existentes voltados para o consumo de livros, como a Bienal, Circuito Ler, feiras literárias locais e muitas outras iniciativas que surgem para alavancar a divulgação do que é produzido atualmente. Mas e quando uma feira literária “invade” um evento que não é literário? Parece que ainda fica difícil quebrar algumas barreiras, fazer de um público que não é exclusivamente consumidor de livros, mas sim de gastronomia. Isso foi o que eu pude perceber estando como autor em um evento literário que foi desafiador, justamente por estar em um ambiente que apesar de diverso, reúne muitos grupos que tem até certo estranhamento em um primeiro contato com a literatura, mas muitos se mostram abertos a possibilidade de terem novos contatos com outras formas de expressão.

   O desafio é para ambos, claro, interagir e integrar é sempre desafiador, principalmente quando os dois mundos são um tanto quanto diferentes e talvez até opostos. Foi o caso da Gastro Beer Rio, uma feira gastronômica que ocorreu na Quinta da Boa Vista, com muita comida, bebida e música, e que através do Instituto Libertas, o escritor Sidney Oliveira nos proporcionou momentos únicos em um espaço que foi reservado para a parte literária durante os dois do evento e nos deu uma proveitosa experiência de contato humano com essa diversidade que muitas vezes estamos desacostumados a lidar. E este é o desafio, criar uma cultura literária, também é criar uma cultura de acesso ao outro, a leitura de mundos e universos que hoje está tão escassa na nossa sociedade.

    Existe um desafio muito grande pela frente, mas é um desafio que gera frutos, uma boa parte em longo prazo, assim como todo desafio, o plantio começa com a semeadura e é assim que Sidney faz com a feira literária poética, cada livro vendido é uma árvore plantada. Sabemos que nem todos os frutos serão colhidos por nós, mas lá na frente colheremos os frutos de um desafio que se faz constante e necessário, que é o fruto de lidar com o outro, lendo seus universos, e fazendo deles escritores de suas histórias.

Sobre o autor: Pedro Garrido é poeta, pedagogo e escritor.

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